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January 21, 2016

Straight Outta Compton (2015)

January 21, 2016
"Yo Dre, I got something to say."
"We gave people a voice, we gave people the truth."

Quem acabar de ver este filme e não sentir uma necessidade de formar o seu próprio grupo de rap, certamente não o viu da maneira correta.
"Straight Outta Compton" tocou no fundo do meu ser que até sonhei com ele durante duas noites seguidas.

Os rappers Dr Dre e Ice Cube juntaram-se à esposa de Eric Wright aka Eazy-E, para contarem a história das suas origens no mundo da música do Hip-Hop, assim como prestar homenagem ao seu amigo já falecido, Eazy-E.


A história começa em Compton, Califórnia, em 1988, onde os três adolescentes cresceram, no meio de lutas de gangs, violência e drogas. 
Como todos os outros, ao olharem para os seus colegas mais ricos, sonhavam em algum dia poderem ter uma vida melhor, longe da pobreza material ao seu redor, e para isso agarraram-se à sua paixão pela música e à sua riqueza mental.
Mas mais que obterem fama ou dinheiro queriam mais que tudo ter liberdade para expressarem as suas e as vozes daqueles que conheciam e que ninguém queria ouvir.


Foi um dos grandes momentos da história em que o Hip-Hop contribuiu para mudar mentalidades e mostrar a verdadeira realidade dos bairros dos Estados-Unidos que todos escolhiam ignorar. Foi um movimento recebido de forma controversa porque o resto da população acreditava que este tipo de música era feito por criminosos para criminosos e que glamorizava as drogas, as armas e este estilo de vida violento.

Tudo o que Dre, Ice Cube e Eazy-E queriam era mostrar ao resto do país que as suas letras sobre tiroteios e matar sem remorso não serviam para glamorizar o ambiente destes bairros mas para descrever a realidade em que eles tinham crescido e em que muitos dos seus familiares e amigos ainda vivem.


Outro aspeto que ainda se encontra presente hoje em dia é o da brutalidade policial, e que desde 1988 até agora não houve mudanças algumas. No filme vê-se que a polícia não tinha quaisquer problemas em prender, atacar e maltratar alguém por causa da cor da sua pele. Desde que a cor da sua pele fosse negra, isso era motivo suficiente para serem empurrados contra o capot do carro, revistados e algemados, mesmo sem terem cometido crime algum. E nem mesmo as pessoas negras mais velhas e que se via que eram cidadãos exemplares podiam escapar a este desrespeito por parte de pessoas cujo único objetivo seria protegê-los.
Após terem sido contratados por uma agência discográfica para gravarem o seu album, o grupo NWA (Niggaz Wit Attitudes) encontra-se à porta para se distraírem durante alguns minutos. No mesmo instante, chega a polícia e manda-os deitarem-se no chão, e a única coisa que os rapazes estavam a fazer era a comer hamburguers e a conversar, mas na mente dos polícias todas as ações de todas as pessoas negras são ameaçadoras. Neste caso, são dois polícias brancos e um negro, o que, como Ice Cube escreve na música inspirada por este incidente "Fuck Tha Police", é para se "mostrar" aos outros polícias brancos. E, aqui, vê-se a imparcialidade e a crueldade da força policial, em que mesmo um polícia negro não respeita as outras pessoas da mesma raça que ele.


A música "Fuck Tha Police" foi recebida com imensa controvérsia, não só das polícias locais, que chegaram a proibir que os músicos a tocassem nos seus concertos, mas também por parte do governo federal do FBI, que via as letras do album "Straight Outta Compton" como uma ameaça terrorista.
Mas, ao serem proibidos de tocar esta canção, a raiva que sentem por serem mandados calar por falarem da sua realidade, dá-lhes um ímpeto que eleva a força do seu movimento, como forma de dizerem ao resto da população "não estamos aqui a brincar, esta é a realidade em que vivemos e temos o direito de nos expressar livremente."


Ice Cube acaba por deixar o grupo devido ao manager Jerry Heller os estar a enganar, especialmente a Eazy-E, e a ficar rico à sua custa.
Cube voltou-se para a sua carreira a solo, onde começou a participar em filmes e a sua carreira de cinema começou a crescer, mas também continuou a escrever algumas músicas a criticar os seus antigos colegas, o que aumentou a tensão entre todos. 
Eazy-E finalmente abre os olhos em relação a Jerry Heller, e tenta voltar a comunicar com Ice Cube e Dre de forma a se conseguirem juntar novamente e continuarem a fazer o trabalho que queriam ter feito e a passar a mensagem que queriam antes de Jerry aparecer. Mas, esta reunião nunca viria a acontecer, Eric Wright foi diagnosticado com HIV e morreu pouco tempo depois do diagnóstico.


É uma história verídica sobre como há sempre motivos superiores para querer fazer música do que a fama ou o dinheiro. Ambos Dre e Ice Cube, após a morte do seu amigo, tiveram sucesso nas suas carreiras. Dre fundou a sua agência discográfica Aftermath, onde trabalhou com artistas como Eminem e 50 Cent, entre outros. E Ice Cube continua, principalmente, a trabalhar como ator.


Achei genial ter sido o verdadeiro filho de Ice Cube, O'Shea Jackson Jr., a interpretar o pai no filme. O filho é a cara chapada do pai, e confesso que, em certos momentos do filme não sabia se estava a ver o pai ou o filho.
Deve ser uma sensação inimaginável, ser-se um adolescente a sonhar em ser alguém e fazer com que a nossa voz seja ouvida, e passados alguns anos, estar fora dessa vida de violência e viver rodeado de riquezas e mansões e o nosso filho poder fazer o nosso papel num filme sobre a nossa vida. É assim que vejo as vidas dos rappers que tiveram sucesso nas suas carreiras, como se fosse uma vitória e que conquistaram o mundo.

E acho que me apaixonei um bocadinho pelo filho do Ice Cube.


Está nomeado para Best Original Screenplay para os Oscars de 2016, mas na minha opinião, deveria ter muitas mais nomeações. Numa controvérsia já existente desde o ano passado, em que a maioria dos nomeados foram brancos, e este ano aconteceu a mesma coisa, filmes como este e também como Selma, no ano passado, contam uma história da realidade do que se passa hoje em dia, mas que as pessoas não querem aceitar.

January 19, 2016

Mad Max: Fury Road (2015)

January 19, 2016
 "Witness me."
Comecei a ver este filme com a expectativa de o odiar, e a pensar que este tipo de filme não era para mim.
Há alguns tempos, após ter visto o trailer, pareceu-me que havia imensa confusão, com demasiadas lutas, e barulho, e tempestades de areia, enfim, tudo o que podia dar um ataque cardíaco só de me ver "entrar" numa nuvem gigante de tempestade de areia.
Confesso que também fui um bocadinho influenciada pelo pouco que já tinha visto dos filmes anteriores desta saga, e que não gostei muito.


Mas estava enganada, tão enganada.
Do ponto de vista visual, Mad Max: Fury Road é magnífico. Fiquei estupefacta com a beleza de cada imagem, de cada cenário. 
De como até a própria areia laranja do deserto se tornou ela própria numa personagem do filme, dando-lhe um aspecto quente de calor, que até mesmo as cenas de um azul frio, eram quentes. As cores temáticas são principalmente os laranjas, os vermelhos e os azuis. É tudo tão saturado e cheio de cor, que pensei que seria um pouco demais, mas que cria uma sensação agradável nos olhos.

  
Os efeitos de som também estão impecáveis. Ouve-se os diálogos como se as vozes estivessem distantes e só nos chega uma parte do eco, o que encaixa bem com o estilo característico do filme. E não só essa distorção do som mas também as partes semi-aceleradas, como quando as personagens correm como se o filme estivesse a ser rebobinado para a frente. Todos estes efeitos, que acho que são habituais nos filmes de Mad Max, dão a Fury Road um aspecto macabro e doido, que vai de acordo com o mundo selvagem e pós-apocalíptico em que as personagens vivem, e que complementam ao máximo o filme em si.


Acho piada que o nome de Max esteja no título do filme, e que, supostamente, ele seria a personagem principal, mas aqui ele passa para papel secundário, até mesmo não dizendo o seu nome até aos últimos minutos do filme, e quase nem diz uma frase inteira, apoiando-se em grunhidos e frases de uma palavra para comunicar.
As personagens principais são as mulheres, as escravas-sexuais do rei Immortan Joe. Com a ajuda da mulher do rei, Imperator Furiosa, elas fogem da fortaleza onde vivem, onde tudo está sob o controlo de Immortan, até a própria água, que como é escassa no deserto, é usada como forma de controlo sobre a população.


Depois da fuga das suas prisioneiras pela sua liberdade e em busca do "Green Place", terra de Furiosa, cheia de prados verdes, animais e água, e que lhe foi retirada quando era pequena, quando a sua mão foi raptada por Immortan Joe, segue-se uma perseguição pelo deserto, em que Mad Max ajuda estas mulheres a escaparem sem querer nada em troca.


Não tendo visto os filmes anteriores, não conheço muito bem a personagem do Mad Max. Mas neste filme, vejo que ele se preocupa com as pessoas, e que tem um sentido humanitário que o permite ajudar quem quer que ele ache digno da sua ajuda. Percebe-se que também é assombrado por fantasmas do passado, e que talvez esteja à procura de redenção pelos mesmos.


A nível dos actores, acho que fizeram um trabalho excelente. 
Ambos Charlize Theron e Tom Hardy conseguiram dar uma forma real às suas personagens.

Mad Max: Fury Road é um filme fantástico, com boas actuações e visualmente apelativo, com uma história boa e que não admira que tenha conseguido tantas nomeações para os Oscars de 2016.